Hélder Pacheco, professor de História Social e Cultural do Porto, investigador das culturas e tradições populares e escritor, publicou uma crónica – “Só Palavras” – no Jornal de Notícias, no dia 2 de Fevereiro de 2019, sobre o “Mundo da Canção”/Avelino Tavares e que passamos a transcrever:
Tenho orgulho em ser portuense. Isso não me impede de criticar os defeitos e incongruências de que o Porto dá mostras. E um dos piores chama-se ingratidão. Existem dezenas de personalidades perante as quais a cidade mantém a dívida de serem lembradas. Celebradas. Sobre elas paira o esquecimento.
E um dessas figuras chama-se Avelino Tavares. Portuense do coração, teve a coragem de, em 1969, num país cinzento e amordaçado, editar uma revista dedicada à divulgação de músicas “do nosso descontentamento” e de autores e intérpretes que contribuíram para arejar o ambiente cultural e abrir janelas sobre o mundo ao nível do melhor que havia. O “Mundo da Canção” permanece, no campo da divulgação e dignificação da indústria e do espectáculo musical, como um dos acontecimentos mais relevantes do Burgo.
Mas o Porto e o país devem mais a Avelino Tavares. Trouxe até nós o brilho de Ferré a Paco de Lucia, de Gal Costa a Nara Leão. (Abriu-me os ouvidos para figuras como Ivan Lins, Pat Metheny e, num concerto memorável no Rivoli, o incomparável Astor Piazzolla). Além de ter apoiado número incontável de intérpretes portugueses (Carlos Paredes, José Afonso, Fausto, José Mário Branco, Rui Veloso e muitos mais), produziu, organizou e divulgou o Festival de Jazz do Porto, 17 edições do Festival Intercéltico, o Matosinhos Jazz, o Funchal Jazz, o Gaia Blues Festival e o Praia Blues.
Como um JN inteiro não chegava para contar quanto o Avelino Tavares fez em prol da comunidade, aqui lhe deixo um preito. Vale pouco. Só palavras. Mas é o que tenho para demonstrar a minha gratidão.
Há palavras que calam fundo, como foi o caso destas que Hélder Pacheco teve a bondade de dedicar ao MC e ao Avelino, na sua crónica. Vindas de um homem bom, que partilha o amor por esta cidade, são reconhecimento bastante.
Foram também estas palavras que motivaram variadas respostas e reacções de amigos, colaboradores e fãs do MC, que passamos a apresentar:
Muito bem… parabéns por toda a dedicação em favor da cultura e da educação também…
Beijinhos.
Professora Raquel Magalhães
Que maravilha querido amigo!!
Singela e curta homenagem, quanto a mim, logo eu que aprendi a compor com as letras que apareciam no MC!! Porém vinda de um dos melhores de sempre da nossa cidade!!
Sim, o Porto muito te deve, a minha geração muito te deve, pela divulgação que fizeste da boa música que há por esse Mundo. Ninguém podia prever que fazias parte de uma “raça” em extinção, quando os promotores e os patrocinadores gostavam de música. Mudou muito o Mundo. Os músicos são substituídos por bloggers, opinion makers, influencers, que tiraram a cátedra no Facebook e na Wikipedia…
Desconsiderados e destratados diariamente nos media, em favor de fenómenos internéticos que ultrapassam a compreensão do mais comum mortal e põem de rastos séculos de cultura e conhecimento. O triunfo da ignorância, do obscurantismo e da boçalidade mais básica.
Assim, querido amigo, ainda bem que vivemos uma época em que as coisas eram mais interessantes, onde havia esperança que nos levava à luta pelas nossas ideias, onde se ia ao cinema, se lia, se discutia… Somos nós agora os velhos do resto… o restelo que se foda. Porque, à luz do q se vê hoje, o que conta mesmo é o poder do dinheiro. E nós, como sabes, nunca fomos por aí…
Aquele abraço fraterno que, espero, te encontre na melhor condição possível.
Até breve!!
Rui Veloso, músico
Olá! Bom dia, meu amigo Avelino, em primeiro lugar cabe-me parabenizá-lo por este artigo escrito de forma muito verdadeira pelo autor onde revela a enorme importância que o meu amigo teve e continuará a ter no mundo da música, onde como muitas vezes mencionava trouxe a este povo pouco agradecido enormes nomes da música nacional e internacional… Os meus parabéns, quer ao autor pela autoria do texto, quer á sua pessoa, aproveito para lhe enviar um abraço de gratidão por ter um amigo como o Avelino na minha vida.
Sempre o vi como um senhor… detentor de enormes qualidades, bom falante, bom ouvinte, justo e de grande confiança… grato por um dia ter conhecido e poder dizer que sou seu amigo…
Grande abraço, ao seu dispor.
Paulo Pinto
Caro amigo Avelino, obrigado por me ter enviado esta publicação, pois vou reencaminhá-la para um amigo que faz parte da equipa do Presidente da Câmara do Porto.
Depois já lhe contarei.
Um grande abraço do Benfiquista.
António Brito
Querido amigo,
Muito orgulhoso de ti e daquilo que o “Mundo da Canção” representou para nós.
Depois daquilo que aconteceu ontem (3-1), já merecíamos, poderás dizer, mas, extrapolando isso, não tenho palavras para renovar o meu apreço pelo teu magnífico trabalho de tantos anos, pelos muitos milhares de horas dedicados a promover o que de melhor, nós, os músicos portugueses, íamos fazendo. És o maior, amigo! Orgulho em pertencer ao teu círculo de amigos.
Grande abraço.
Manuel Faria, músico
Caro Avelino,
Li com muita satisfação o recorte do jornal acerca do cidadão empreendedor (ainda não existia este termo para definir as pessoas com iniciativa…) que foi, e continua sendo, o Avelino Tavares! Ainda havemos de nos encontrar em outro Festival na Madeira, ou outro sítio que o Avelino vai descobrir…
Grande Abraço, com a saúde possível, porque a idade não pára!
Maestro Jorge Costa Pinto
Meu estimado amigo,
Nunca haverá palavras suficientes para fazer jus ao teu trabalho, à tua dedicação e paixão pela causa cultural e por aqueles que davam o corpo e a cara para mudar o nosso país.
Tu também não o fizeste para te darem medalhas, fizeste-o por opção e por dever cívico e intelectual.
Por isso te digo que ficarás para sempre ligado e um dos registos mais importante (senão o mais importante) daquela época da nossa cinzenta história.
Um enorme e forte abraço.
José Moças, Editora Tradisom
Amigo Tavares,
É sempre bom ter notícias tuas e quando são destas, ainda melhor. Tu mereces isso e muito mais. Só tenho pena de estar entre “os outros” pois tenho uma enorme dívida para contigo por tudo o que fizeste por mim.
Um grande abraço.
Luís Cília, músico e compositor
Olá meu querido,
Mais que merecido este artigo. Só peca por ser tão tardio. Mas como já diz o ditado: mais vale tarde que nunca.
Um forte abrasonzaço.
André Sarbib, músico
Caro Avelino,
Subscrevo por inteiro a crónica do Professor Hélder Pacheco sobre o teu trabalho em prol da cultura um pouco por todo o país (Continente e Ilhas), em especial na área da música, ao longo de 50 anos. É obra! E aquilo que é dito na crónica, que Hélder Pacheco, apesar de ser um portuense orgulhoso nada o impede (e bem de criticar “[…] os defeitos e incongruências de que o Porto dá mostras. E um dos piores é a ingratidão”, são frases tão certas. Diria mesmo que esse defeito e incongruência chamado ingratidão é de âmbito nacional e nele tem como base, um outro defeito que considero ainda bem pior, a inveja ou para aligeirar a coisa, a “invejite” aguda. Noutros lugares do mundo isso não acontece ou pelo menos não é tão doentio como cá (neste País).
Ainda bem que há pessoas como o Professor Hélder Pacheco que se recordam de pessoas que ao longo de uma vida e de uma forma apaixonada (é por aí que tudo começa, não é verdade?) se dedicam a uma causa, e ao fazê-lo ajudam outros a “ganhar asas” e a evoluir positivamente como seres humanos.
Bem hajas, Avelino Tavares, e como é bom ter o privilégio e a honra de ser teu amigo, mesmo que por motivos de distância geográfica, não nos encontremos pessoalmente tantas vezes como desejaríamos.
Um grande abraço e aguardo por novidades do “Mundo da Canção” para este ano, pois 50 anos, é já uma idade de respeito! Eu que o diga, que tenho 50 feitos em Agosto do ano passado.
Joaquim Leça
E é bem verdade, a ingratidão grassa nos governantes deste País, que têm memória tão curta, e esquecem-se rapidamente daqueles que tanto fizeram nas suas áreas de trabalho, divulgando do melhor que se faz cá dentro e lá fora. Comungo inteiramente da opinião de Hélder Pacheco… Governantes, a maior parte, querem é ser servidos, depois já não se lembram de quem os ajudou!
Um abraço aí Avelino.
Emanuel Rebelo, Vespas
Boa tarde,
Una crónica escrita con la cabeza desde el corazón.
Un abrazo.
Jose Angel Serrano, produtor (Bilbao)
Amigo,
Acho que este é o sentir de toda a geração que te acompanhou deste lado. Fizeste um trabalho notável e eu gostava que tivesses tido mais anos de produção, pelo menos até te fartares.
Nós estamos a entrar no fim da linha. Sem dinheiro, sem funcionários, sem patrocinadores, sem vontade de esticar a corda à custa da nossa saúde, vamos singrando mais dois anos, este e 2020 em que fazemos 40 anos de Fantasporto. Também não tenho vontade de oferecer à CMP ou a outra entidade qualquer que não independente, o festival, como já nos foi sugerido. Veremos o que acontece. Este ano parece que estão a inverter a tendência dos últimos 5 anos, depois do ataque horroroso que a Visão, Público e Lusa nos fizeram. O patrão comum- Balsemão, às claras ou escondido. O Alvo- Menezes que apoiámos. Há mais pedidos de entrevistas. E já não fazem referência às suspeitas disto e daquilo porque nada se provou. Mas isso não quer dizer nada. Continuamos a sofrer os efeitos disso. Metemos 3 processos nossos em 5 anos – um arquivado, 2 à espera- vendemos tudo da Cinema Novo, vendi um apartamento, mudamos de instalações e tentamos manter a dignidade da nossa imagem pública.
Por isso, enquanto tu e eu assistimos à matança da cultura independente no Porto para dar unicamente ligar à cultura do regime, fica-nos apenas os factos- que muitos gostaram do que fizemos.
Aliás, é só bluffs. A Câmara não nos deu nem mais nem menos do que nos dá desde 2006! Rivoli (mas temos de pagar muito do pessoal), isenção de taxas e 25 mil euros – que revertem em parte para o funcionamento do Rivoli. Mas este ano fizeram publicidade. E temos de novo a cláusula de confidencialidade do Rio, sabias?
Espero que a tua saúde esteja bem. Mudamos para o Rivoli na próxima 3ª feira. 4ª ou 5ª aparece lá para uma cafezinho.
Beijinho.
Beatriz Pacheco Pereira, directora do Fantasporto
Boa tarde,
Quanta honra ter conhecido Avelino Tavares. Grande profissional. Grande Homem. Grande Amigo.
Bem hajas Avelino por fazeres parte da minha vida e pelo muito que fizeste por tanta gente!
Um brinde!
Maria Helena Duarte, directora revista “Paixão pelo Vinho”
Caríssimo,
Muito obrigado pela partilha.
Tudo o que aqui se diz é a mais pura verdade.
Abraço.
Paulo Ferreira, livraria In-Libris
Olá Avelino,
Transcrevemos a crónica no facebook!
Um belo texto à altura do homenageado.
Abraços.
Manuela Matos Monteiro, Mira Fórum
Uma bela crónica de Hélder Pacheco publicada no JN que presta tributo a Avelino Tavares que o GAATP homenageou em Novembro.
Subscrevemos todas as palavras que Hélder Pacheco registou.
Obrigado, Avelino, por tudo!
Manuela Matos Monteiro, na página do GAATP
GENTE do PORTO – Quando uma REFERÊNCIA escreve sobre outra.
Tal como ele, também eu digo:
– A MINHA GRATIDÃO AVELINO
ABRAÇON.
Francisco Chico da Emilinha
O título desta crónica é enganador. Porque não são só palavras. As palavras só valem pouco para quem não lhes dá o devido valor, e não é esse o caso – nem de Hélder Pacheco, nem de Avelino Tavares. Um é dos mais importantes (se não o principal) historiadores e estudiosos da vida e da memória da cidade do Porto e das suas gentes. O outro é porventura o mais persistente defensor e divulgador da música (e da cultura) que nela se faz – e fora dela também. Ambos amam a cidade a que pertencem, mesmo se esse amor nem sempre é retribuído como devia. E os dois merecem todo o reconhecimento – da cidade e do país – pela tenacidade, pelo empenhamento, pela inteligência. E acima de tudo pela verticalidade de que deram (e dão) sobejantes provas.
Foi um prazer participar na justíssima homenagem que o Grupo dos Amigos das Adegas e Tascos do Porto prestou a Avelino Tavares. Um prazer acrescido também pela possibilidade que esse encontro me deu de conhecer pessoalmente o Professor Hélder Pacheco. Porque é sempre bom encontrar gente boa, principalmente numa época e num mundo em que esse é um bem cada vez mais escasso.
O meu obrigado, pois, ao meu velho amigo Avelino Tavares e ao meu novo amigo Hélder Pacheco. Dois homens de palavra(s) que, só por isso, já mereceriam ser amplamente acarinhados pela cidade e pelo país. Por palavras, mas – já agora – também por actos.
Viriato Teles, jornalista e escritor
Desta crónica, e das respostas que lhe seguiram, fica o mais valioso testemunho de como o trabalho do Mundo da Canção impactou a vida daqueles que nos acompanharam nestes anos. Com “só palavras” deixam-nos (quase) sem palavras.