MC celebra 36 anos com colectânea histórica
“Entrevistas MC” é o título da edição especial da revista MC – Mundo da Canção, agora publicada, e que reúne quase duas dezenas de entrevistas com protagonistas de primeira grandeza da música portuguesa e mundial das últimas quatro décadas. Chico Buarque, Carlos Paredes, Fausto, Joan Manuel Serrat ou Carlos Puebla são algumas das personalidades da música que foram entrevistadas para o MC entre 1969 e 1985 e que agora surgem reunidas nesta edição.
Este número, que tem direcção editorial de Avelino Tavares, coordenação e organização de Rosa Maria Ferreira e direcção gráfica de André Cruz, inclui colaborações de José Viale Moutinho, Luís Paulo Moura, Maria Teresa Horta, Mário Correia, Vieira da Silva e Viriato Teles, que integraram o corpo de colaboradores regulares da revista em diversas fases da sua publicação.
Entrevistas com Adriano Correia de Oliveira, Chico Buarque, Carlos do Carmo, Carlos Paredes, Daniel Viglietti, Fausto, José Mário Branco, Luís Cília, Manuel Freire, Sérgio Godinho ou Vitorino fazem parte desta colectânea, que regista igualmente os encontros dos repórteres do MC com Joan Manel Serrat, Angel Parra, Carlos Puebla, Filarmónica Fraude, Fernando Tordo, Manuel Gerena, Rui Mingas, UHF.
Mundo da Canção, ou MC, como veio a ser conhecida, surgiu no Porto há precisamente 36 anos, em 16 de Dezembro de 1969. Francisco Fanhais era a figura da capa deste primeiro número do MC e, era também um indício da direcção em que apontava a jovem revista, que durante os 15 anos seguintes se tornou uma referência dos sucessivos movimentos musicais que despontaram em Portugal.
Porque, apesar da ditadura de mais de 40 anos em que então se vivia, Portugal não estava imune à agitação do resto do mundo – que de resto era muita, com a chegada dos primeiros astronautas à lua, o movimento hippie e Woodstock, a guerra do Vietname, os Beatles em fase de desintegração, a chegada de Arafat à liderança da OLP e de Golda Meir à chefia do governo de Israel.
Portugal, além disso, tinha três frentes de guerra nas “províncias ultramarinas” e um regime repressivo na “metrópole”, o que não impedia que vozes mais afoitas se levantassem, entre elas as de meia dúzia de músicos e cantores, quase todos oriundos do meio académico e que, com José Afonso e Adriano Correia de Oliveira à cabeça, protagonizavam já nessa altura um movimento político-cultural que iria dar um contributo muito importante para a libertação de Abril de 1974.
O ano de 1969 foi também o ano de um dos mais marcantes programas de sempre da televisão portuguesa: o “Zip-Zip” que, ao longo de escassos nove meses de emissões, contribuiu para dar um impulso vital ao então nascente “movimento dos baladeiros” – como ficou conhecido o processo que se desenvolveu a partir daí na canção portuguesa – envolvendo um grupo numeroso de novos cantores, em grande parte motivados pelo exemplo de gente como José Afonso (que não chegou a participar no “Zip”, devido à oposição expressa do comissário do regime para a RTP, Ramiro Valadão), Adriano Correia de Oliveira (que esteve na primeira emissão), ou Manuel Freire, que teve no programa de Carlos Cruz, Fialho Gouveia e Raul Solnado o seu maior êxito de sempre, com a “Pedra Filosofal”.
O MC surge marcado por todo este movimento político-cultural, e participa activa e empenhadamente na sua divulgação, sempre com o objectivo explícito de “lutar contra o cançonetismo apodrecido e ajudar a construir uma canção diferente”. Assim, nos números seguintes da revista surgem as notícias possíveis sobre os seus protagonistas, onde começam então a figurar alguns nomes que vão tornar-se marcos indeléveis da canção de protesto, como o (então) Padre Francisco Fanhais, Fausto, Vieira da Silva, José Jorge Letria, Deniz Cintra, Rita Olivais e muitos outros.
Mas o MC esteve também sempre atento ao que se passava “fora de portas”, e foi um veículo privilegiado de divulgação em Portugal das novas tendências e das músicas do mundo. Com uma tiragem inicial de 4500 exemplares (que chegaria atingir os 30 mil), teve Avelino Tavares como fundador e primeiro director – função que, por aversão ao protagonismo, assim que lhe foi possível delegou em José Viale Moutinho – e rapidamente se tornou um “caso sério” da imprensa especializada.
Com a publicação desta primeira colectânea de entrevistas – enquadradas por um texto introdutório de Viriato Teles – assinalam-se também os 36 anos do projecto MC – Mundo da Canção que, após a suspensão da publicação regular da revista, nos anos 80, se distribuiu pela vertente editorial, de distribuição de discos e de produção de concertos e de festivais que hoje são referências nas área da música popular e do jazz – casos do Festival Intercéltico do Porto, do Funchal Jazz, do Gaia Blues ou do Festival de Matosinhos. Um segundo “volume” de Entrevistas MC será posto à venda até ao Verão.
Dezembro 2005