Biografias MC

1º VOLUME

Carlos Paredes
A Guitarra de um Povo

No dia 1 de Abril de 2000, pelas 17 horas, no Rivoli – Teatro Municipal, no âmbito das actividades paralelas do 11º Festival Intercéltico do Porto, foi apresentado o livro CARLOS PAREDES – A Guitarra de um Povo, da autoria de Octávio Fonseca Silva.

Contando com o trabalho fotográfico de Luís Paulo Moura e numa edição do MC – Mundo da Canção, CARLOS PAREDES – A Guitarra de um Povo é o primeiro volume de uma série de biografias dedicadas aos músicos que marcaram de forma mais determinante a nossa música popular urbana contemporânea.

Na continuidade dos objectivos que sempre nortearam a acção da revista Mundo da Canção que, ao longo de trinta anos, desempenhou um papel fundamental na defesa e na divulgação da nossa música popular, a par de outras músicas menos favorecidas pelo mercado internacional do disco, esta colecção, dirigida ao público em geral e não apenas aos especialistas, pretende fixar a informação essencial relativa à vida e obra dos nomes que contribuíram de forma mais decisiva para a evolução da nova música popular portuguesa.

 

CARLOS PAREDES
O Oiro e o Trigo do que é Eterno

Carlos Paredes é, enquanto compositor e intérprete genial, uma das maiores figuras da cultura portuguesa deste século que os apressados balanços finisseculares tendem a tornar confuso e, por vezes, pouco credível em matéria de escolhas absolutas.

O livro de Octávio Fonseca Silva CARLOS PAREDES – A Guitarra de um Povo, em boa hora dado à estampa com a prestigiada chancela Mundo da Canção, é uma primeira e a partir de agora incontornável abordagem biográfica do percurso criado e vivencial de um homem que, através das sonoridades da sua guitarra portuguesa, conseguiu produzir a síntese emotiva e sensível do nosso modo colectivo de estar e de ser.

Assente em depoimentos de pessoas que com ele privaram ao longo dos anos, seja no plano estritamente artístico ou no quadro de uma relação pessoal duradoura, o livro de Octávio Fonseca Silva fornece aos investigadores da obra do músico, mas também ao público em geral, um conjunto de pistas e de materiais de trabalho que, a contar de agora, não pode ser ignorado.

Nestas páginas está presente o homem culto e humilde, generoso e tantas vezes insondável, gentil e inspirado, discreto e desconcertante que marcou todos quantos com ele tiveram o privilégio de privar, no palco e na vida.

O menino de Coimbra que bebeu na arte do pai e do avô as bases do que viria a ser uma singular estética de composição e interpretação, o cidadão comprometido com o seu tempo e com o destino do seu povo, o melodista que fez da guitarra o instrumento da sua portuguesíssima arte poética, o homem de cultura que nunca alardeou títulos nem méritos está presente, de corpo inteiro, neste excelente trabalho, que é também o roteiro de uma vida difícil com escalas no teatro, no cinema e sempre na música.

Amigo e incondicionável admirador de Carlos Paredes desde meados dos anos sessenta, tenho a grata convicção de que esta obra séria e rigorosa lhe faz justiça, abrindo portas para a investigação aprofundada que, no plano musicológico, se lhe há-de seguir, designadamente por parte da Universidade, agora mais liberta de preconceitos academizantes que ditaram alguma inaceitáveis exclusões.

Foi pena que este país não tivesse criado condições para Carlos Paredes se ter dedicado mais cedo, com carácter de exclusividade, à sua brilhante obra musical e também ao ensino da técnica interpretativa da guitarra portuguesa. Agora é tarde. Porém, estamos sempre a tempo de lhe agradecer tudo o que nos deu de si sem nada pedir em troca, com uma modéstia e uma generosidade que só quem o conheceu de perto se atreverá a tentar explicar.

Por mim, nunca poderei esquecer o entusiasmo dos milhares de pessoas que o aplaudiram de pé, em sucessivos encores, em Itália, na Alemanha, na Holanda, na Suécia, logo após o 25 de Abril de 1974, fazendo dele o genial embaixador de uma pátria que acabar de reconquistar a liberdade.

Não é possível falar do artista Carlos Paredes sem se falar, ao mesmo tempo, do cidadão atento, empenhado e sempre inquieto, do homem que nunca se rendeu a dogmas nem se deixou cegar por falsas evidências, do criador que o êxito nunca embriagou ou lançou nos braços do autoconvencimento.

Perfeccionista, Paredes nunca transigiu com a facilidade ou com a mediocridade, com o imediatismo ou com o pragmatismo das conveniências comerciais. A sua consciência ética e artística esteve sempre acima de tudo isso. Por isso, ele foi e continuará sempre a ser um dos melhores de todos nós.

Este livro faz-lhe justiça e, fazendo-a, deixa-nos de bem com uma memória que tem na sua obra, na sua poesia cantante e melancólica e na sua cidadania rigorosa e crítica o mais sólido suporte.

É pena que Carlos Paredes não possa estar presente neste lançamento. Se pudesse era bem capaz de não passar da porta, sempre com o seu olhar perscrutante e só aparentemente desatento, murmurando para as pessoas mais chegadas: “Ó amigos, deve haver engano. Eu não mereço isto. Este livro não deve ser sobre mim. Há outros que merecem isto muito mais do que eu. Eu vou-me embora porque parti uma unha e assim não posso tocar.”

É este o Carlos Paredes que o livro de Octávio Fonseca Silva homenageia. É este o Carlos Paredes que o Portugal democrático admira e consagra. É este o Carlos Paredes que já se eternizou na memória e no gosto de todos quantos se curvam, numa vénia de profunda e comovida admiração, ante a luminosidade do seu génio criador e interpretativo.

Silêncio, pois, que o movimento perpétuo da sua arte está agora a passar por aqui, com o oiro e o trigo do que é eterno e nosso.

Texto © José Jorge Letria
1 de Abril de 2000

 

2º VOLUME

José Mário Branco
O Canto da Inquietação

Com edição MC – Mundo da Canção, acaba de ser lançado no mercado o livro JOSÉ MÁRIO BRANCO – O Canto da Inquietação, da autoria de Octávio Fonseca Silva. Trata-se do segundo volume de uma série de biografias dedicadas aos músicos que marcaram de forma mais determinante a nossa música contemporânea.

Na continuidade dos objectivos que sempre nortearam a acção da revista MC – Mundo da Canção que, ao longo de trinta anos, desempenhou um papel fundamental na defesa e divulgação da nossa música popular, a par com outras músicas menos favorecidas pelo mercado internacional do disco, esta colecção, dirigida ao público geral e não apenas aos especialistas, pretende fixar a informação essencial relativa à vida e obra dos nomes que contribuíram de forma mais decisiva para a evolução da nova música portuguesa.

Está assim justificada a inclusão de José Mário Branco nesta colecção de biografias, cujo critério editorial procura conciliar a importância artística dos biografados e as lacunas existentes na literatura musical publicada no nosso país.

Na história recente da música popular portuguesa, a obra de José Mário Branco ocupa um lugar de especial relevo. Ao longo de trinta e cinco anos de carreira artística, ao lado de outro grandes autores, os seus sucessivos contributos foram decisivos para que a qualidade musical se fosse impondo entre nós. Em cada ano que passa, surgem novos músicos e novos projectos que vão ajudando a consolidar um já longo processo indiscutivelmente iniciado por José Afonso.

A primeira preocupação do presente volume, seguindo o espírito que presidiu ao lançamento desta colecção, foi reunir o máximo de informação disponível acerca da vida e obra do artista em questão, tarefa que nos parece útil para quem, futuramente, as pretenda estudar ou desenvolver noutros sentidos. A informação compilada é o resultado de uma aturada pesquisa bibliográfica, complementada com os testemunhos imprescindíveis de algumas pessoas que privaram muito de perto com José Mário Branco, para além do seu próprio depoimento que se revestiu naturalmente de fundamental importância.

Toda a informação recolhida foi depois sistematizada e comprovada pelo cruzamento de fontes, procurando apresentar-se uma exposição devidamente ordenada, coerente e fiável. Pela sua natureza, neste tipo de trabalhos parece-nos que o principal objectivo a atingir é o rigor da informação transmitida, mesmo que, por vezes tenha de sacrificar-se o estilo.

Paralelamente, procedeu-se a uma audição exaustiva de toda a obra musical de José Mário Branco, dos discos de outro autores em que teve participação relevante, bem como de outros trabalhos de referência publicados em fases cruciais da evolução da música popular portuguesa, no sentido de se perspectivar o respectivo enquadramento.

Finalmente, procedeu-se à análise e discussão de todos esses elementos para se chegar a uma visão pessoal da obra de José Mário Branco, procurando que este trabalho possa ser também um guia de audição para quem a pretenda conhecer de uma forma mais profunda.

A presente biografia completa-se com um dossier documental onde são reproduzidos alguns textos da autoria de José Mário Branco, quatro entrevistas por ele concedidas em diferentes fases da sua carreira, a lista da sua obra discográfica, algumas partituras e a bibliografia consultada.

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