O meu amigo Avelino Tavares cumpre hoje 80 anos de vida, e isso devia ser motivo de dupla (ou tripla ou quádrupla) celebração. Porque não se trata de uma vida qualquer, mas da vida de um homem que faz questão de a viver em toda a plenitude; porque é uma vida cheia de história e de histórias de que ainda é preciso deixar relato; porque é a vida de um homem naturalmente generoso e apaixonado, generosidade e paixão que estendeu ao trabalho em prol da música e da cultura a que já dedicou mais de 50 anos; porque não é uma vida qualquer, é a vida de Avelino Tavares.
Pouca gente em Portugal conhece tanto (e gosta tanto) de música como ele. Avelino Tavares – o Tavares, como é conhecido e chamado por quase todos – nunca foi homem de holofotes, sempre preferiu a discrição da plateia ou dos bastidores. E foi aí que empenhou todo o talento e toda a paixão, no sentido de criar e partilhar momentos únicos, frequentemente memoráveis.
É a ele que se deve o Mundo da Canção, MC para os amigos e leitores, primeira revista de divulgação musical que por cá se publicou, a partir do final dos anos 60 do século passado. Mas a revista que fundou foi apenas a primeira etapa dum percurso que depois se estendeu a outras vertentes sempre com a música presente: na edição e na distribuição, na divulgação, e sobretudo na produção de alguns dos melhores espectáculos que passaram por Portugal (e principalmente pela cidade do Porto) a partir dos anos 80.
Do longo e muito digno currículo de Avelino Tavares e do MC fazem parte centenas de grandes concertos, muitos deles históricos: como o último de José Afonso (no Coliseu do Porto, Maio de 83), mas também os de Piazzolla, Gismonti, Paco de Lucia, Atahualpa Yupanki, Nara Leão, Patxi Andion, Carlos Paredes… E 17 edições inesquecíveis do Festival Intercéltico do Porto. E outros. E outras coisas. Uma vida cheia, enfim. E não apenas de música.
O Avelino Tavares é um homem cuja noção de felicidade é inseparável da ideia da partilha, da amizade, do prazer de ser e de estar. Tem sido assim com os amigos, com o trabalho, com tudo aquilo em que se envolve e com que se envolve. Porque só assim as coisas fazem sentido para ele, porque é este afinal o sentido das coisas.
O Avelino Tavares é tudo isto, e é tudo isto que faz dele um ser raro. É também um dos meus melhores amigos, mas não é a amizade que me leva a dizer o que digo. É que ele é mesmo assim.
O Avelino fez agora 80 anos, mas mostra um sorriso de 20 quando exclama que “a vida é tão bonita!” Acreditem, não é conversa de velho: ele sabe mesmo do que fala.
Texto © Viriato Teles
Foto © Sandra Bernardo